domingo, 15 de novembro de 2009

O Kimbo da Neriquinha

Um aglomerado de cubatas de capim encardido pelo tempo, plantadas logo ali, no lado de lá do arame farpado, aparentando um alinhamento ordeiro, sinal de que alguém havia coordenado a sua implantação no terreno.

Normalmente os Ganguelas não se preocupavam com a geometria, quando construíam os seus abrigos. Era onde calhava ou onde desse mais jeito. Apenas servia para se abrigarem à noite, já que toda a lide doméstica era feita no espaço circundante.

O Capitão entendeu que a situação precária de muitas das cubatas e a anarquia das ruas do Kimbo justificavam uma intervenção urbanística. Incumbiu-me de fazer o levantamento e identificar as que necessitavam de renovação, as que deveriam ser totalmente reconstruídas e alinhadas e ainda equacionar o eventual alargamento da aldeia.

Fiz qualquer coisa, mas a adesão da população não foi muito entusiástica. Para quê tanta trabalheira se o que existia era suficiente?
O calor era intenso e as poucas sombras convidavam ao descanso. Mas, uma coisa ou outra foi renovada. Por exemplo, um celeiro novo foi construído. Contudo, não me pareceu que isso tivesse resultado da iniciativa do Capitão.

5 comentários:

Pedro Cabrita disse...

As suas fotos continuam-me a transportar memórias boas e ao mesmo tempo complicadas.
Ando a utilizá-las, conforme mas disponibilizou.

Entro aqui só para um breve comentário acerca do novo celeiro.

Não esqueça que graças ao enorme esforço da Companhia (aquele machimbombo, para lá e para cá nas lavras...) a população da N´riquinha teve a maior produção de milho de que tiveram memória, no segundo ano de presença da companhia ali(informação fidedigna do Lupale...).

Assim sendo, a C.Caç 3441 tem que reivindicar para si a necessidade gratificante de terem que construir um novo, ou mais um, celeiro.
Por isso mesmo (segundo o livro "Capitães do Vento"...) fizeram tudo o que ingenuamente lhes era possível para dissuadir a companhia a ir-se embora.
Para quem leu o livro e se lembra, ocorreu até o envio de uma delegação das mais altas individualidades do Kimbo no sentido de dissuadir o capitão a ir-se embora. E não foi fácil dissuadi-los... O que muito deve honrar a companhia, pelo seu esforço e dedicação àquela gente.
Eu sinto isso assim.

Um abraço.

P Cabrita

Egidio Cardoso disse...

É verdade, reconheço isso.
Para além de ter lido "Capitães do Vento", também participei em várias deslocações às zonas das lavras para o transporte do cereal para o Kimbo, após as colheitas.
Lembra-se da tentativa em convencer os GE's para a construção de uma horta como a nossa? Eu fiz parte do projecto.
Contudo, tomates, pimentos, couves e alfaces não faziam parte da ementa dos Ganguelas. Não deu em nada.
Ah, o Lupale. essa figura. Sabe, quando me lembro dele, vejo-o quase sempre como ... o ministro dos negócios estrangeiros do Kimbo da Neriquinha.
Merecia uma homenagem ... do género da que eu escrevi a propósito do Máquina.
Aliás, parece que teve fim idêntico.

Pedro Cabrita disse...

OK. O Lupale...

Eu vejo-o numa perspectiva ligeiramente diferente.

O Lupale era assim uma espécie de Cônsul Honorário (ao estilo do Valentim Loureiro... enquanto cônsul honorário da Guiné...)...

Um dia destes ainda vou deixar alguma coisa mais sobre o Lupale. Talvez uma caracterização mais aprofundada da sua personalidade.
Ele, sim, era o verdadeiro Soba de N´riquinha.

P. Cabrita

PS
Ando com a N´riquinha (actual) na cabeça...
Será que não conseguíamos contacto com alguém que passe por lá em direcção ao Rivungo e nos fotografasse o local...? Eu sei que o Rivungo tem vida administrativa. Pelo que há certamente gente a passar por lá.
Tem alguma ideia de onde procurar gente ou entidade que nos pudesse trazer essas imagens, ou nos indique quem o possa fazer?

Isto não me dá mesmo sossego...
Pagava bem por essas fotos...

Gabriel Costa disse...

Cardoso:
Acrescentei, ao teu post, uma fotografia da estrutura construtiva de uma cubata.
Um abraço
Gabriel

Egidio Cardoso disse...

Esta estrutura era mais elaborada. Neste caso, as paredes seriam cobertas de barro, constituindo uma construção mais robusta e mais durável, mas nem por isso mais confortável.
As estruturas cobertas de capim eram mais rudimentares e simples.
O interior de qualquer delas, mesmo debaixo do clima tórrido de África, pareciam estar equipadas com ar condicionado.
Frescas durante o dia e aconchegantes durante a noite.