domingo, 5 de fevereiro de 2017

Dr. ARMANDO LACERDA - Homenagem

O Dr. Lacerda deixou-nos. Partiu, inesperadamente, sem que ele próprio o quisesse, para desgosto de todos nós e sem que eu tivesse tido sequer oportunidade de me despedir. Ficou para sempre adiado aquele almoço que em tempos combináramos para data a aprazar.
Um dia destes, disse.
Hoje, lamento amargamente não me ter decidido a combinar o dia.
O Dr. Lacerda foi o médico que cuidou de todos nós no inferno da Neriquinha e não nos abandonou quando, já no sossego retemperador das Mabubas, lambíamos as feridas da alma deixadas pelo isolamento das areias quentes da savana do Cuando Cubango.
Não sei se, naqueles tempos conturbados, era assim para todas as unidades militares; sei apenas que a 3441 tinha médico privativo. O então Alferes Lacerda foi mandado para aquele inóspito lugar com a missão de zelar pela saúde dos cerca de 140 homens da companhia e de toda a população dos kimbos que existiam desde a Neriquinha até ao Chipundo.
E isso não era tarefa fácil. A malta, pouco habituada aos rigores daquele clima hostil, era vulnerável às correspondentes maleitas de que se destacavam a malária, alergias várias e fungos esquisitos, para além duma multiplicidade de ameaças à saúde de cada um que impunham permanentes cuidados preventivos e a atenção do Dr. Lacerda que ainda tinha de enfrentar as crendices ancestrais daquele povo e competir com a influência, as mezinhas, as danças, as rezas e os unguentos do curandeiro do Kimbo.
Fez tudo isso e ainda conseguiu ser amigo e companheiro.
É verdade, o nosso Dr. Lacerda, deixou-nos.
O Sporting perdeu um dos seus mais dilectos sócios; nós perdemos um velho companheiro e amigo.
Descanse em paz.

3 comentários:

Figueiredo Pinto disse...

6/02/2017 - Bom dia a todos os amigos e companheiros da C Caçadores 3441. Presto o meu agradecimento pessoal ao Egidio por de forma simples e sincera prestar no nosso Blogger, como o vem fazendo ao longo dos anos, deixar umas palavras à pessoa que foi o Dr Lacerda. Foi, na verdade o nosso médico, o nosso companheiro, o nosso conselheiro, naquelas longínquas e inóspitas terras de N Riquinha, continuando a sê lo nas Mabubas. Pessoalmente, fico lhe agradecer o muito que me ensinou, como ser pessoal e como médico. No convívio anual de Castelo Branco em 31 de Maio de 2014, afirmou que a sua disponibilidade para vir era pouca, mas se era eu a organizar, então viria. E veio. OBRIGADO. Foi um reencontro super positivo do qual fica a recordação daquele abraço e das palavras que me dirigiu. Partiu o corpo. Ficam as recordações da vivência tida com o médico, com o homem, com o companheiro e amigo, por aquelas terras longínquas. Dr Lacerda, um dia encontrar nos emos de novo. Descanse em Paz. MUITO OBRIGADO, por ter sidoa pessoa que foi.

Cabral disse...

Aquele que nos deixou este mês por morte, talvez prematura para os tempos que correm, não só foi o nosso médico, ou o médicos dos quimbos, que tanto mal apaniguou, tanta morte evitou, sem ser à ponta de uma espingarda, como qualquer militar, foi, por força de mais idade em relação a nós e, concomitantemente, mais vivências e maturidade, um indubitável diplomata mediador das múltiplas questiúnculas que iam no dia a dia surgindo, não apenas entre aqueles desterrados e desenraizados nos cus de Judas, mas entre os vários degraus de arestas aguçadas que subiam ou desciam a deplorável hierarquia que nos enleava, tendo-lhe de obedecer. Era, por assim dizer, o ministro dos negócios estrangeiros tanto para baixo, como para as altas esferas do 3857.
Mas a sua transbordante boa disposição e o seu senso de humor, muitas vezes serviram de lenitivo nas risotas da mesa ou da caserna, completando o efeito sedativo das Cucas ou do Sbell.
Muito mais se poderia dizer sobre o Dr. Armando Lacerda, mas creio que cada um de nós, na memória terá muito também a dizer das boas recordações que tem dele.
Lancei um último olhar sobre o féretro em que jazia morto. Uma bandeira verde cobria-o, um leão no emblema na lapela... e tantos dias passados juntos numa saudável amizade! Sem retorno. Adeus! Até sempre|!
Eduardo B. Aranha. 11/2/2017

Pedro Cabrita disse...

Cabia-me a mim prestar esta última homenagem a um bom amigo que nos deixou sem aviso.
O Egídio sabe porque me decidi não ser eu a fazê-lo.
A C. Caç 3441 era constituída por 140 unidades, hierarquicamente organizada segundo as regras e exigências militares. Foi a norma a que todos nos sujeitámos e a nenhuma outra mais.
Há dias perdemos uma dessas unidades, que se junta a outras que infelizmente já partiram.
As palavras inscritas na homenagem estão certas e todos as subscrevemos com emoção; o sentimento presente é forte e doloroso.
Mas cabe-me, com o mesmo espírito de igualdade com que sempre norteámos a relação hierárquica que nos impuseram, guardar raso o sentimento de dor e perda por mais um de entre nós que partiu. O Armando Lacerda compreenderia que assim fosse.

Caminhemos o resto do caminho preservando a memória deste amigo, que o foi em todos os momentos, como o são os amigos maiores.
Como ele certamente desejaria que o fizéssemos, vamos em frente.
Um dia a gente vê-se...!

P. Cabrita