domingo, 15 de janeiro de 2012

A preparação da janta

A alimentação dos ganguelas da Neriquinha era muito pobre e talvez fosse essa a razão para não haver gordos entre aquele povo.
Proteínas, apenas as que retiravam do que conseguissem caçar, uma ocupação dos homens que para o feito, deambulavam durante semanas pelas matas até apanharem alguma coisa; por sorte, a caça abundava por ali.
Também nunca os vi comer verduras e os frutos resumiam-se a algumas variedades, desconhecidas para nós e que cresciam espontaneamente nas matas.
A base da alimentação era constituída por dois cereais: o milho e o massango, com os quais cozinhavam uma papa de aspecto duvidoso.
Mas para isso, era necessário transformá-los previamente em farinha, uma tarefa demorada feita à força de trabalho braçal; bater os grãos dentro de um grande pilão com uma vara grossa e pesada, era tarefa árdua que competia às mulheres. Passavam horas em pé, batendo o cereal a um ritmo cadenciado, até conseguirem a consistência desejada.



4 comentários:

Anónimo disse...

Apenas deixar um breve contributo em mais este post do Egídio.

Trata-se de chamar à atenção para as duas últimas fotos, onde se podem ver quatro troncos formando uma cruz, ou um "L" na outra.

Passa despercebido à maioria, mas esclarecer que se tratava de um engenhoso "fogão" natural... que eles mantinham aceso com uma perícia extraordinária.
Repare-se na espessura dos troncos. Quase impossível manter aquilo aceso. Mas ardiam um dia inteiro se fosse necessário.

Logo que desnecessário apagava-se a chama e a brasa da ponta dos troncos (acho que lançando areia em cima; areia era coisa que não faltava na N´riquinha...) para reacender mais tarde com a mesma técnica de reacendimento e manutenção com séculos de função.

Enfim. Aquela gente, tendo em conta a sua localização, que ainda hoje é das mais periféricas de Angola, só tinha a ancestralidade como fonte de conhecimento inesgotável para a sua sobrevivência.

Creio que o Egídio já fez uma breve referência à capacidade de sobrevivência dos Busquímanos na mata, mas talvez ainda se lembre de alguns pormenores de como andavam na mata 15 dias sem ração de combate a que tinham direito, mas que enterravam mal saíam do quartel, para no regresso as recuperarem para a família.
Era um bom post...

P.C.

Egidio Cardoso disse...

Bem, na verdade já fiz referência a essas capacidades daquele povo pequenino, no post "Perdidos na Noite" publicado em Maio de 2009.
A parte inicial da história é exactamente dedicada a esse hábito de enterrarem a ração de combate à saída para, no regresso, desenterrarem as latas e entregá-las à família.
Ainda assim, pode ser que se arranje forma de votar a falar daquela gente

Pedro Cabrita disse...

A capacidade de sobrevivência daquela gente na mata era, de facto, prodigiosa. Não só os busquímanos como todos os outros.
Em tempos usava uma imagem que me parecia definir bem essa capacidade.
"Pegando num único nativo e deixando-o na mata mais recôndita e distante, se lá formos um ano depois ele já terá mulher e filho..."

Memórias.
Não sei se alguém se lembra disto.
Numa operação para norte da N´riquinha, fomos forçados a ficar na mata mais um dia do que o inicialmente previsto.
E, naturalmente, faltou a ração de combate.
Não é que a fome seja algo que ocorra com muita frequência quando o calor é escaldante e do que o corpo precisa é de água.
Mas naquele dia, chegados ali para as 15h00, o estômago começou a perguntar por um qualquer conforto.
Tínhamos levado 5 G-E's.
Veio um e perguntou: posso ir procurar comida mê captão...?
Comida...? Há por aqui algum snack-bar, não...? Aligeirei eu a circunstância.
E foi.
Não passaram mais de 15 minutos e lá vinham dois GE's com fartos pedaços de favos carregadinhos de mel; e foi um fartote. A fome morreu mesmo ali. Mas em contrapartida... a sede subiu em flecha. Mas havia água.

(IN - Minha memória...)

P.C.

Antº Rosinha disse...

Será que colonizámos mesmo ganguelas?

Será que eles tinham obrigação de aceitarem qualquer civilazação estranha a eles?

Será que iam saber um dia o que era um míssil americano, e um Mig soviético?

Os últimos ganguelas que trabalhavam comigo, perto do Cuangar a seguir ao 25 de Abril, quando me viram fazer as malas diziam: "vamo-nos matar uns aos outros".

Já estavam um pouco politizados.

Era numa construção de uma estrada e ponte sobre o Cubango.

Existe no google earth um pouco do resto desse trabalho meu e outro "patrão" como encarregado e 20 e tal contratados da região.

Era nas coordenadas 17 18,9000 S, 18 21.3727 E

Ve-se nessas fotos um pouco de que teria sido aquela guerra e os ganguelas a assistir e talvez participar.

Cumprimentos