
E tendo de haver uma barbearia, também teria de haver um barbeiro, mas alguém que na vida civil já tivesse exercido a profissão, já que, se bem me lembro, esta especialidade não era ensinada na tropa.
O problema é que, com vinte anos, a experiência de quem quer que tivesse sido profissional da arte, seria pouca ou nenhuma no manuseio de ferramentas mecânicas de cortar cabelo, já que ainda não tinham sido inventadas as movidas a electricidade. E, se as houvesse, de pouco serviriam, já que, electricidade era um bem raro que apenas estava disponível do cair da noite até à hora do recolher e, ainda assim, sujeito aos humores e achaques do pequeno gerador.
Recordo, contudo, que nem toda a gente recorria aos préstimos do barbeiro encartado, cuja especialidade oficial era a de corneteiro, arte para a qual também não revelava jeito especial. Era uma situação igual a tantas outras na tropa. Os estrategas escolhiam quem bem entendiam para o desempenho de ofícios vários sem se preocuparem se os seleccionados tinham vocação ou não. Mas enfim, tudo se passava sem grandes problemas, recorrendo-se amiúde à arte maior do desenrasca. Apenas se barafustava quando o cozinheiro feito à força se revelasse um clamoroso erro de casting o que, para nossa desgraça, acontecia mais vezes do que seria de desejar.
Bem, voltando à barbearia, a verdade é que, ao fim de algum tempo, muitos se aperceberam que o corneteiro, para além de não ter jeito para a corneta, também não tinha para cortar cabelo, transformando a ida à barbearia em sacrifício, agravado pelas mal afiadas ferramentas, rombas de tanto mau trato.


Como ferramentas, apenas uma tesoura (arranjada não sei onde) e um pente.

Sem comentários:
Enviar um comentário