segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O CARNAVAL

Foliões, haverá sempre.
E foi graças aos foliões que, na Neriquinha, o Carnaval não passou em claro.
Mesmo naquele lugar inóspito, onde as poucas notícias que nos chegavam vinham com grande atraso, alguém se lembrou deste velho costume pagão e trouxe alguma folia e animação ao sossego fastidioso e quente das nossas vidas.
Não sei como nem onde, mas a verdade é que arranjaram umas vestimentas a preceito:
o Braga, desencantou uma maxi-saia da moda, encheu os peitos com qualquer coisa e o Seabra vestiu uma estonteante mini-saia. Colocaram um lenço na cabeça, ensaiaram uma pose provocante e durante o dia de Carnaval coloriram o ambiente e quebraram a monotonia.
À falta de outros apetrechos, o Filipe e o Leiria, colocaram na cabeça chapéus não regulamentares e disfarçaram peças do fardamento militar com o que encontraram à mão, talvez (não me lembro) fazendo a vez de acompanhantes das duas raparigas.
Por um bocado, foram as únicas mulheres brancas vistas por ali, desde que chegáramos. A chatice é que eram demasiado machões não conseguindo um só meneio minimamente feminino

20 comentários:

Pedro Cabrita disse...

Venho manifestar o meu desagrado pela dúvida manifestada relativamente à proveniência das indumentárias de tais personagens.

Vinha lembrar a existência de um Centro Comercial no aquartelamento (muito antes de qualquer Colombo, ou quejando), portanto algo muito avançado para a época, embora o nome (Chiado) não constituísse uma novidade, uma vez que já alguém em Lisboa o tivesse abusivamente usado...

Esquecer esta realidade é omitir uma circunstância que revolucionou a moda no Cuando Kubango, o que, em termos históricos, se traduz numa omissão que pode beliscar a memória das gentes daquela região.

O Chiado era um ícone por onde passou o último grito da moda dos anos 70, cujos ecos ainda perduram, como é exemplo a foto trazida à nossa memória neste texto.

Ficando o meu protesto, não relevarei este lapso que atribuo ao normal desgaste do nosso álbum de memórias, cada vez mais em decadência... como é o meu caso...

Vai o meu abraço e mais uma vez os meus parabéns.

P. Cabrita

PS
Espero que um leitor mais disperso ou descuidado desta nossa realidade entenda a piada... que, na verdade, só nós podemos entender em toda a sua dimensão.

Egidio Cardoso disse...

Eu entendi logo.
Bem, mas eu estive lá. Por isso sei o que era o Chiado (o da Neriquinha).
Continuo à espera que alguém conte aqui uma história a propósito do Chiado. Eu tenho fotografias para ilustrar.
Este espaço, que não me atrevo a chamar de comercial, era o único sítio onde a população local podia aquirir uns trapos, alguns utensílios, bugigangas e missangas ... as importantes missangas que usavam para fabricar adornos.
Mas o P. Costa é que sabe disso.
E.C.

Gabriel Costa disse...

Ó Cardoso e Cabrita!
Vocês esqueceram os 2 modelos que deram fama ao Chiado da N´Riquinha no início dos anos 70: a Regina Branca e a Regina Preta. Eram, se bem se recordam, as primeiras a usar as novidades que o P. da Costa (homem da moda feminina, como sabem) tinha o bom gosto de seleccionar para as belíssimas mulheres camaches e guenguelas lá do burgo.
Sem as 2 Reginas, o Chiado, não teria o brilho e a notoriedade que alcançou em Teras do Kuando Kubango.

Pedro Cabrita disse...

Este Gabriel lembra-se de cada coisa...
Veja bem, ó Cardoso, o controlo que ele exercia naquele Chiado...
Nada se lhe escapava. E tudo isto mesmo com três Berliets avariadas.

Com este olho, que belo atirador que perdemos no mato, ó Cardoso...

PC

Egidio Cardoso disse...

Se calhar era mesmo por isso.
Para além do mais, não nos devemos esquecer que a ferrugem, de que ele era o chefe, era vizinha do Chiado.
Se calhar, do seu gabinete, enquanto decidia de qual das berliets encalhadas deveria tirar uma peça para pôr outra a andar, controlava as entradas e saídas do referido espaço comercial.
Ou então, o controlo era para ver quem o P. Costa lá metia dentro e por quanto tempo.
Coisas de quem não tinha que fazer...
E.C.

Gabriel Costa disse...

Ó Cardoso:

Se eu te contasse quem é que entrava e saía do Chiado carregadinho de novidades para as Reginas, benzias-te! Adianto apenas que o respeitinho pelas hierarquias me impede de tornar público o que todos sabemos. Até o capitão sabe! Não sabe?

Pedro Cabrita disse...

... Eu seja ceguinho...!!!!

Pedro Cabrita disse...

... é que não sei mesmo...!!!

Gabriel Costa disse...

Pois, imagino que não saiba! As agruras da chefia não deixavam tempo para as coisas mais comezinhas, como, por exemplo, apreciar o desfile das Reginas.
Eu, pela minha parte, também não vi nada nem sei nada! Fui uma vez ao Chiado e só lá vi o P. da Costa a vender saias e a tirar as mediadas aos "kafecos".

Pedro Cabrita disse...

Eu admito que terei ido ao Chiado... duas vezes...
Grande tropa a do P. Costa.
Entre os nabos e as hortaliças da horta ainda teve a enorme trabalheira de tirar medidas a Kafecos.
Será que ele tinha G-3... ou acabou enferrujada?

Quanto aos desfiles... a conclusão é que só me calharam as agruras da N´riquinha. As coisas boas passaram-me ao lado.
E se foram as agruras da chefia, não sei. Mas acho mais que andei distraído...

Abraço

P.C.

Gabriel Costa disse...

Tá bem, tá!

Pedro Cabrita disse...

Pronto... !
Entrámos na parte da "Face Oculta"...!
Que venha a judiciária...

Egidio Cardoso disse...

A Judiciária já nada pode fazer.
A ter existido crime, já prescreveu.
Conclusão: Caso encerrado.

Pedro Cabrita disse...

Ora que descanso o meu...!!!!

Gabriel Costa disse...

Eu não estaria tão descansado!
Em Luanda, está a funcionar um Departamento cujas funções são, basicamente, a busca e identificação de antigos amores separados pelo fim das comissões militares!
Ó Cabrita, a coisa está BRANCA!

Pedro Cabrita disse...

Pois. Assim sendo, a coisa para mim está mesmo branca.
Para quem está preta, não sei..., embora eu presinta que transparece por aí algum receio da sua parte...

Por outro lado, eu nem me importava de ir responder a esse dito Departamento, só para ter que regressar a Angola.
E digo-lhe mais; nem sei se não vou por aí recriar um facto novo, denunciar-me a mim próprio e por fim exigir ser ouvido em longas declarações. De preferência no local e com testemunhas de todas as cores; também locais, claro.

E como tenho um amigo na judiciária, exigirei a presença dele nos interrogatórios, só por via das dúvidas.

Isto é só o que lhe vou dizendo para pôr a claro a situação.

Abraço

P.C.

PS
Estes políticos, ó Egídio...
É "Face Oculta" por tudo quanto é oportunidade...
Mesmo na reforma. Agora imagine se estivessem no activo...

Gabriel Costa disse...

Já entendi:
nem medo, nem pouca vergonha!

Egidio Cardoso disse...

Eu juro que não sei de nada.
Vocês estão a falar de quê?

Pedro Cabrita disse...

... agora... também já não sei...

P.C.

Gabriel Costa disse...

Estamos a falar de chocolate branco e de chocolate preto!
Havia um guloso que comia o chocolate BRANCO e outros que comiam os chocolate PRETO!
Pela minha parte, só comecei a comer chocolate depois de velho pelo que estou livre de tais pecados de juventude!