sábado, 16 de janeiro de 2010

O povo da N'Riquinha

A população autóctone da N’Riquinha era maioritariamente constituída por GANGUELAS. Era uma das etnias mais atrasadas de todo o território angolano, o que era visível na sua forma de vida, crenças, hábitos e temores. Tinham pavor de máquinas fotográficas. A fotografia impressa era, para eles, a alma que a máquina demoníaca lhes havia roubado.
Era uma sociedade patriarcal na qual a mulher era apenas força de trabalho e instrumento de procriação. Mas eram pacíficos, simpáticos, afáveis no trato e reconheciam a atenção que lhes dispensávamos, se bem que com muita subserviência.
À luz dos estereótipos europeus, nenhum deles podia ser considerado bonito. De acordo com os nossos padrões de beleza, a adolescente (Kafeco) mais bonita do aldeamento estava muito longe de ser considerada esbelta. O corpo das mulheres, perdia todas as curvas em pouco tempo, tornando-se rapidamente envelhecido.
Mas sabem, ao fim de algum tempo, uma meia dúzia de entre as mais novas já nos pareciam belezas de passerelle… e apetecíveis.
E não deixava de ser estranha a forma como conseguiam fazer tudo, carregando os filhos às costas. Até sexo.

8 comentários:

Pedro Cabrita disse...

Uma boa reportagem fotográfica e legendagem bastante esclarecedora e realista.
Como não podia deixar de ser, tenho saudades desta gente toda.
Mesmo sem fazerem nada por isso, todos eles se intrometeram... "under my skin...".

Por isso mesmo posso fazer algumas graças sem ser mal interpretado.

- Vibrei com este "remake" de algumas das melhores produções de moda no nosso Chiado.

Quanto ao medo das fotografias, alguém se lembra da expressão que usavam quando não queriam que lhes tirássemos fotos?
- "Xangueko mokupula...!" ... Não quero fotografia!.

Especialmente esta última foto está espectacular.
Parabéns ao autor e ao Cardoso pelo todo do trabalho.

P. Cabrita

PS
Começo a ficar inquieto por não ver por aqui, praticamente, nem um único dos nossos companheiros da Companhia.
Estamos a escrever só para nós os três...?
O que se passa?

Egidio Cardoso disse...

Já não me lembrava do termo "xangueco". Juntamente com "maxiririca" (que expressava contentamento ou agradecimento) eram os termos mais ouvidos ou que, pelo menos, mais verbalizados.

As fotografias, incluindo a última, são todas de slides do Vilela digitalizados, excepto a segunda (é minha).

É verdade! cadê os outros?
Gostaria de por as mãos nas colecções de slides do Aranha e do Morais.
Se mos emprestarem, prometo que devolvo intactos e com um CD oferta com toda a colecção digitalizada.

E.C.

Luis disse...

Meus Bons Amigos,
Não os conheço mas porque andei também por aí senti saudades desses momentos que aqui estão tão bem retratados. Comandei uma Companhia de Policia Móvel que ocupava os Postos Policiais de todo o Cuando-Cubango e por esse motivo passei por aí muitas vezes e igualmente pelo Rivungo. Nunca esquecereia alegria que vos dava ao levar o correio no "puxa-empurra"!
Um abraço solidário e amigo.
Luís

Pedro Cabrita disse...

Queria só fazer um acrescento que poderá ilustrar um pouco mais a reportagem transcrita pelo Egídio.

Salvo erro, a primeira imagem será uma manifestação fúnebre.

Deve ter falecido alguém e, reunidos os familiares e amigos, três batuqueiros tocam fervorosamente durante horas os tambores construídos de tronco de árvore e tampo de pele de animal, cujo som ecoava a uma distância considerável.
Por vezes esta manifestação fúnebre entrava pela noite adentro, chegando a durar dias, dependendo da importância do defunto.

Fica a referência.

P. C.

Egidio Cardoso disse...

Caro Luis.
Já tinhamos reparado que é um dos nossos seguidores.
Mas o que eu considero uma surpresa agradável é o facto de ter integrado o corpo de polícia que ocupava os postos da zona.
Se tem lido o nosso blogue, sabe que me refiro a eles amiúde, especialmente o chefe França que comandava a PSP do Rivungo em 1971/72 ... e outros que a memória recorda a imagem mas não o nome.

Um abraço
E.C.

Anónimo disse...

Olá meus caros,cumprimentos a todos
Na verdade eu além de não vos conhecer pessoalmente também não posso comparar a minha experiência com a vossa que tiveram que estar uma eternidade naquele fim de mundo.
Eu fui apenas um dos últimos especialistas da F A P na zona Leste e na época fui destacado para fazer a desactivação de 3 aeródromos dos que tínhamos na zona
a saber Cuito Cuanavale, Gago Coutinho e finalmente N'riquinha onde estive 3 dias ( já sei 3 dias não é nada ) para fazer o inventário do material que seria suposto recolher.
A parte engraçada é que estive esses 3 dias para cumprir com as ordens que tinha ( ordens são ordens por estúpidas que sejam) mas na verdade teriam bastado 3 minutos pois a rapaziada do Exército sabendo que a F A ia sair primeiro despejaram completamente as instalaçóes deixando apenas as paredes.
Foi hilariante sobretudo quando regressei ao Luso e entreguei a lista de material ..... uma folha em branco.
Éramos jovens não tínhamos medo de nada e agora temos saudades

Um grande abraço a todos

Mário Bacelar ex cabo especialista de Abastecimentos da FAP

A. Neves disse...

Olá Mário Bacelar, viva !
Gostei de ler o texto do "balanço" das instalações de N'Riquinha. Também fui EABT 70-72 no AB4.
Contacta-nos para especialista.do.AB4@gmail.com
Visita o nosso Blog http://ab4especialistas.blogspot.pt/
Um abraço

JOSE REIS disse...

Fui à N'Riquinha uma vez no Dakota das pulverizações.
Estava em Cangamba quando o Dakota tinha a ali a base e foi à N'Riquinha levantar o material para acabar a operação.
Aproveitei a boleia. Estavamos em 1970.
Fomos www.batalhaoasdeespadas.com
Vão até lá.
Abraço a todos os homens das Terras do Fim do Mundo