Tentei deixar este texto nos comentários mas alonguei-me e ultrapassei a cota permitida.
Achei, por sentimento, que não deveria retirar uma única palavra.
Daí esta publicação.
Ter connosco o meu Amigo Manuel António Pinto
embarga a manifesta surpresa que nos é tão grata e desencadeia uma bem
temperada mistura de alegria, enorme respeito e admiração.
Frequentemente utilizamos estes considerandos no
limbo do lisonjeio gratuito ou de ocasião, sendo de todo pertinente que se
esclareça desde já que o que nos move a todos, quase garanto que sem excepção
no referente a este nosso Amigo, tudo é sincero e preito de gratidão.
Manuel António Pinto não foi apenas o 1º Sargento
da C.Caç. 3441.
Ele foi o verdadeiro comandante daquela Companhia.
Um homem singular que (ia dizer "agregava", mas cometia uma imprevidência; daí...) agrega a honradez, a competência e a capacidade de
trabalho, num espírito vivo e determinado em servir sempre bem uma causa e o
dever em que se determina em a cumprir com denodo.
É meu desejo extravasar esta alegria imensa de o
"rever" por aqui e de lhe deixar a minha melhor expressão de
admiração pelo seu carácter e virtuosismo que nestes 40 anos que já lá vão
nunca me cansei de propalar a amigos, quando era da guerra que se falava.
Porque a retórica das palavras pode escamotear o
senso do seu significado, é meu desejo deixar dois ou três episódios que me
parecem bem mais eloquentes daquilo que é meu desejo enaltecer.
- O 1ºdesses episódios confere ao M.A.Pinto o estatuto de
detentor de cátedra da Administração Militar.
Quer o nosso Comandante de Batalhão, quer o 2º
Comandante, sempre que se deslocavam à N´riquinha, sub-repticiamente colocavam
problemas de administração ao Pinto (problemas embrulhados que ocorriam na sede
do Batalhão...), solicitando que solução ele teria para as solucionar, caso
acontecessem com ele; quase um exame...
E o Pinto, antecedendo sempre as suas opiniões com
a proverbial… "Salvo melhor opinião...", desenvolvia o seu parecer
com uma aparente timidez mas total segurança naquilo que dizia.
Os Comandantes registavam (mentalmente...) e o nosso 2º
Comandante (Major Tamegão), numa das várias inspecções que fazia à Companhia,
lá me dizia no dia seguinte: "Ó Cabrita; você tem aqui um 1º Sargento do
caraças...!"
A meio da comissão lá veio o 1º Sargento da 3442
fazer um autêntico estágio nas Terras do Fim do Mundo...
O 2º episódio tem a ver comigo.
Se o 1º Sargento da 3442 teve que vir fazer um
estágio à N´riquinha, fácil será imaginar de quantos estágios eu precisava; eu
que frequentei um minimíssimo estágio de Administração Militar de 4 meses em
Mafra...
Um dia o nosso Pinto em trânsito de apresentação
do balanço mensal, talvez o 3º da comissão, perante certamente o meu embaraço
perante tanta conta e mais parcelas ainda, posicionou-se como que em parada e
disse, deferente como sempre: "Vossa Senhoria meu Capitão escusa de procurar
entender as contas porque se eu quiser enganá-lo engano-o mesmo...!
Propunha-lhe o seguinte: o meu Capitão trata da guerra e deixe as contas comigo!"
Nem mais. E vá lá imaginar-se porque razão eu
aceitei a proposta sem hesitar cinco segundos depois...?!
É que 3 meses já me sobravam para apreender a
competência, a honestidade e a sensibilidade do meu 1º Sargento.
Apenas acrescentar que, selado o
"acordo", as contas continuaram a ser apresentadas todos os fins de
mês, como sempre seria feito sem o "acordo". Só que eu já não as
conferia. O que ocorria é que o Pinto me trazia um problema e três soluções. E
eu apenas tinha que escolher qual delas preferia, uma vez que a escolha cabia
ao comandante de Companhia. Na maior parte das vezes fi-lo sempre com o
aconselhamento do Pinto. Uma garantia de que jamais prescindiria.
Tenho perfeita consciência da sorte que tive neste
campo, depois da menor sorte em ver-me com 23 anos de idade a comandar uma
Companhia de Caçadores. Algo que me honra mas que doeu.
- Terceiro episódio.
Um dia fui de férias. Na despedida do Pinto este disse-me: "Se passar pela 5ª Rep dê cumprimentos meus ao Major
Fulano".
E eu fui.
Cheguei, tratei do que lá me levava e terminei com
os cumprimentos do Pinto.
Garanto que o Major quase se colocou em sentido:
- "Você tem lá o 1º Sargento Manuel António Pinto?".
Sim, é o 1º
Sargento da Companhia.
- "Então fique sabendo que você tem, provavelmente, o
melhor 1º Sargento do Exército Português!" (Ipsis verbis)
O que escrevo é uma homenagem.
Sentida e justa.
E, já agora, meu Amigo
Manuel António Pinto é tempo de amenizar essa tremenda humildade com que sempre mascarou o
seu saber, arte e, acima de tudo, carácter.
Bem-haja.
O meu abraço apertado quanto a gratidão e o
reconhecimento que lhe devo.
Pedro Cabrita
ex-Capitão Miliciano
ex-Comandante da C.Caç. 3441