Temos algumas fotografias que mostram a Neriquinha vista de cima, uma delas pode ser vista aqui. Mas esta mostra a verdadeira dimensão do local onde vivemos durante dezoito longos meses.
Hoje, passados cerca de 38 anos, ainda consigo reconhecer cada recanto daquele que foi o nosso pequeno mundo.
Mas olhando, assim à distância do tempo, ainda me interrogo como foi possível ali viver durante tanto tempo, tão longe de tudo o que se assemelhasse a civilização.
A fotografia foi-nos oferecida pelo Fernando Simões, furriel de transmissões da companhia que nos rendeu na primavera de 1973, a C.Caç. 5012.
Obrigado Fernando.
Continue a visitar-nos e conte-nos algumas das coisas que se passaram depois de nós.
11 comentários:
Começo eu a colocar questões ao Fernando, dando-lhe as boas vindas a este espaço.
Os saudosistas como eu, ao olhar para esta fotografia prende-se por momentos no álbum de recordações, que todos, de um modo geral, trazemos na memória.
Mas tenho algumas perguntas a fazer ao Fernando.
1- Junto das instalações que albergavam os oficiais, vê-se um pequeno círculo que aparentemente contorna a casa e parece ser de rodados de viatura. O que é aquilo? Havia circulação de viaturas por ali?
2- É impressão minha ou a nossa horta (a menina dos nossos olhos...) morreu...? Podiam-nos ter pedido o Furriel Costa que nós destacávamo-lo para lá durante uns meses...
3- Havia um passeio de tabuinhas que ia da casa dos oficiais até à messe. Aparentemente não o vejo. Além disso parece haver um caminho de viaturas a atravessá-lo. Desapareceu?
Se for possível algumas respostas do Fernando seria interessante para percebermos que outras perspectivas ocorreram com a vossa companhia na administração do aquartelamento.
Abraço
Pedro Cabrita
Foi a primeira coisa que me chamou a atenção. A horta está morta.
A horta era tratada diariamente, com competência e dedicação, pelo cabo Coelho ajudado por dois ou três rapazes como se vê nas fotografias do "post" publicado em Junho/2010. E era fundamental para nós: os pimentos, os tomates saborosos, as alfaces, as couves e os feijões davam muito jeito, ali, onde os frescos vinham à semana com pouca variedade e duvidosa qualidade.
A pergunta que faço ao Fernando é: Não havia ninguém na companhia que percebesse de horticultura?
É verdade. O cabo Coelho. Não me lembrei
Mas o furriel P. Costa também lá esteve destacado, ou está-me a falhar a memória...?
pc
Não totalmente.
Nós costumávamos dizer que o P. Costa mandava no Coelho, o que é o mesmo que dizer que mandava uns bitaites. Mas quem sabia daquilo era o cabo.
... Huuummm... E já me lembro também de uma tal asma...
E assim o P. Costa se baldou ao mato que nem um herói...
Mas quando andava lá pela horta ele tinha ar de fazendeiro... ou mesmo de Administrador de Circunscrição...
Bons tempos
E lá deixaram morrer a nossa horta...
Tanto trabalho e... morreu na guerra mesmo...
PC
Das muitas fotos que fiz, esta é a única que não é de minha autoria. Slide posteriormente digitalizado por mim. Foi-me oferecido por um camarada operacional/atirador, que a fez aquando em operação num héli sul-africano, que conosco continuaram a colaborar.Eu apenas consegui fotos "aéreas" em cima do depósito da água! localizado entre a enfermaria, cripto (uma das minhas guerras) e a "ferrugem"
Embora não seja visivel, o passeio das tabuinhas manteve-se. Talvez devido ao fenómeno erosão e a altura é razoavel , não seja visivel. Ao lado da casa dos oficiais é mesmo um rodado de viaturas.
Quanto à horta já não me recordo da sua existencia. Localizava-se junto à FAP, onde estava um poço/furo e que se tirava àgua à manivela? (bombeada) ao lado havia um posto de vigia. O tempo apaga certos pormenores na nossa mem.
Fernando Simões - ex furr.mil.
Dessas fotografias aéreas, tiradas do depósito de água também tenho muitas, e também tenho algumas tiradas de Helicóptero pelo Gabriel Costa. Mas nenhuma deixa ver, de forma tão evidente como esta, o deserto em que vivemos 18 meses.
Quanto à horta, para a 3441, era muito importante. Tinhamos lá um cabo a trabalhar a tempo inteiro. E conseguia com isso surprir algumas carências em legumes. O terreno era bastante fertil e na época deles, conseguia produzir tomates, alfaces e pimentos suficientes para fazer salada para toda a companhia.
Quanto ao mais, de facto, a memória vai-se apagando.
Obrigado ao Fernando
Bem. Tendo em conta a pouca memória do Fernando em relação à horta, estou em crer que o meu camarada capitão, deixou-a mesmo morrer.
Ele nunca saberá o que perdeu. Só nós podemos explicar.
Só para o Fernando ficar com uma ideia da fertilidade daquelas terras e daquilo que era possível tirar dali para perto de 100 homens que durante 18 meses e meio poucos produtos hortícolas tinham no reabastecimento, há-de ler no "Capitães do Vento" umas sementes de tomateira enviadas da Metrópole dentro duma carta que depois de semeadas começaram a dar tomate (e que tomates) ainda as da Metrópole não tinham flor. Essas tomateiras deram tomate nove meses consecutivos com flor e tomate ao mesmo tempo. E vieram a morrer após esses nove meses, mas por causa das temperaturas negativas das noites de Julho e Agosto. Não fora isso e não sei quando acabavam de dar fruto.
Daí que me farte de dizer que a maior riqueza de Angola não são os diamantes ou o petróleo. A maior riqueza é a agricultura que, em minha opinião, bem explorada haveria de alimentar uma boa parte de toda a África.
Basta lembrar como a população semeava o milho. O buraco onde meter o bago de milho era aberto com o dedão grande do pé e a semente ali enterrada com o mesmo pé que abria o buraco. Depois era só esperar que nascesse e os caules subisses a dois e três metros de altura. EU VI...!!!!
Por fim uma última dúvida.
Ainda em relação aos rodados à volta da casa dos oficiais.
Mas o que iam as viaturas ali fazer?
Lembro-me que havia ali um morteiro 81 montado num abrigo atrás da casa, para onde eu deveria saltar em caso de ataque.
Mas nunca ali entrou uma viatura.
Saberá o Fernando explicar, se a memória ainda lá conseguir chegar...?
Mera curiosidade
Um abraço e bem-vindo.
Pedro Cabrita
Noto que o "cmdt" Cabrita, continua bastante intrigado, em relação ao movimento de viaturas, por aquelas bandas. Não me diga que no v/tempo aquela zona era limitada no respeitante à circulação de pessoas ou viaturas?
É certo, que e como já se tem dito acima, a memória vai apagando muita coisa. Mais se dirá que eu não visitava com muita frequencia a casa dos oficiais, embora algumas vezes tenha sido convidado para frequentar o "bar privativo" daqueles, ali tomar um copo e cavaquear um pouco. Ou até mesmo em seriço. Talvez tenha descurado um ou outro pormenor que ao fim deste anos todos, se foram "evaporando".
Havia de facto um abrigo para armas pesadas, em frente à casa. Os rodados - Também havia uns oficiais que gostavam de dar umas voltinhas de gipe e unimog (não digo quem pois podem ler o os comentários e ficarem zangados!!!). Até havia "aulas de condução"- mais na pista. Para o pessoal posteriormente já com um certo treino, tirar a carta civil no Luso ou Luanda. Até tinhamos sinais de trânsito. Por exemplo a parada era interdita a viaturas - lá estava o sinal. Peço desculpa de falar um pouco a mais - nomeadamente da minha 1ª. C.CAÇ.5012 - até porque este extraordinário e bem concebido blg. ser propriedade da 3441. Como já tive oportunidade de falar com o E. Cardoso por email e o qual, gentilmente me cedeu algumas fotos vossas e em que pude recordar alguns personagens. Aqui se contam as aventuras e desventuras, alegrias, tristezas e feitos daquela comp. de caçadores 3441 que pela N´Riquinha passou e que nós rendemos e que, pessoalmente, nenhuma critica tenho a fazer.
Recebemos a chave do "condomínio" e demos continuidade ao v/ trabalho. Conserteza de maneira diferente, mas no geral, muito semelhante.
Merecemos a célebre medalha das campanhas de áfrica,cruz de guerra... ou coisa parecida, que vem averbada na caderneta militar...mas que eu nunca vi...
Bem hajam.
Fernando Simões
Quando se escreve sobre os tempos ali passados, o nosso pensamento perde-se em cogitações que nunca antes nos haviam passado pela cabeça.
Enquanto ali estávamos, só pensavámos na melhor forma de minimizar os incómodos e chatisses e no dia em que havíamos de sair dali.
Assim, nunca pensei a sério, em como aquilo era antes de chegarmos e nunca me preocupei com o que aconteceu depois. Até agora.
Este blogue tem-nos trazido ao conhecimento factos, a que passei a dar muita importância, sobre o antes e o depois de ali estarmos.
Contudo, há sempre uma réstia de ciumeira relativamente ao local ... temos sempre a mania que da Neriquinha sabemos nós e mais ninguém.
Ao fim e ao cabo, isso significa que, estranhamente, temos saudades de um lugar onde estivemos e de onde desejávamos saír o mais depressa possível.
Vá lá entender-se isto.
Um abraço Fernando. É bom que nos contem coisas do que se passou depois de nós. Não sei porquê, mas é bom.
Pois é Fernando Simões.
São sensibilidades. Cada um tem a sua.
Se todos funcionássemos da mesma maneira isto era uma sensaboria...
A minha curiosidade acerca dos rodados à volta da "minha casa..." tem a ver com a circunstância de ali jamais ter andado uma viatura no nosso tempo.
Vendo aquele rodado por ali aguçou-se-me a curiosidade em saber porquê. Era ilógico para mim. E confesso que admiti essa hipótese; de a zona se ter transformado numa pista de escola de condução...
Está satisfeita a curiosidade.
E não tenha receio de revelações menos adequadas. A guerra já terminou há muito tempo. Nem calcula as coisas que eu vim sabendo nos últimos 20 anos sobre coisas que aconteceram na 3441 e que eu jamais soube... porque não podia saber... O RDM era implacável e não havia como dar-lhe a volta.
Use este espaço como entender. Não se acanhe em utilizá-lo. Os nossos gestores do blogue não se hão-de importar.
Já agora: sabe a origem da construção da casa onde ficavam os oficiais...?
Se tiver curiosidade eu conto-lhe...
Um abraço e comungue connosco a sua guerra.
Ninguém tem saudades da guerra; o que há é apenas nostalgia de outros tempos... e essencialmente da juventude.
PC
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