segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

ARTESANATO


A produção de artesanato era uma das ocupações diárias da população da Neriquinha.
Nunca me interessei muito pelas peças, mas perdia algum tempo a apreciar a forma como trabalhavam a madeira, com recurso a ferramentas artesanais que eles próprios construíam, socorrendo-se de pedaços de metal velho.

Fiquei perplexo com a forma engenhosa como construíram a forja com a qual aqueciam o metal.
Com a ajuda do fogo atiçado pelo soprar do par de foles artesanais, levavam ao rubro pedaços de molas das suspensões das viaturas, moldando o aço até o transformarem em utensílios.
Os machados, ali chamados de javites, eram produzidos em diversos tamanhos. Com eles esculpiam a madeira ou cortavam lenha, sem necessidade de recorrer às modernas ferramentas então existentes.
Mas também era artesanato a forma como construiam as suas habitações. Protegiam da chuva, eram quentes durante a noite e frescas sob a inclemência do sol

8 comentários:

Afonso Loureiro disse...

Nem a propósito, acabei de terminar um artigo acerca dos artesãos angolanos.

Será publicado na véspera de Natal.

Pedro Cabrita disse...

Quem nos lê não faz a menor ideia da pobreza de meios da população de N'riquinha.
Eles tinham apenas a natureza como única dádiva e meio de subsistência.
Não obstante a abundância de meios e géneros que esta lhes proporcionava, por vezes, era a sua extraordinária capacidade de improviso que resolvia dificuldades inesperadas e obstáculos de monta.

Quando chegámos (e pelas minhas contas e recentes descobertas) eles teriam cerca de 4 a 5 anos de contacto com a tropa. Ou seja, a única fonte de fornecimento de metais para serem transformados.
A forja que o Cardoso refere e documenta era de uma simplicidade e eficácia tremendas. Só acentuar que os foles improvisados eram de pele de animal, cujos pauzinhos atados manobravam com movimentos curtos, simples e eficazes.

Como sabemos aquela população, antes de se mudar para junto do quartel, vivia na N´riquinha Velha junto ao rio Kuando (a cerca de 18 km dali) longe de tudo e vivendo apenas daquilo que a natureza lhes proporcionava (gado, e alguma caça, peixe, milho, massango, frutos silvestres e mel).

A necessidade de protecção trouxe-os para junto do quartel, onde, por outro lado, encontraram uma razoável fonte de outros meios necessários ao seu bem-estar.
Além do acesso aos metais, passaram a ter a possibilidade de frequência de um "Centro Comercial", O Chiado, onde podiam adquirir praticamente "tudo"...
Vou deixar em suspense o que era realmente o Chiado, porque o Cardoso terá certamente reportagem apropriada sobre esta "grande superfície" e dela falará em breve.
Deixo desde já a informação que se tratou da primeira, e certamente única, grande superfície... sem fins lucrativos... O Tio Belmiro devia pôr ali os olhinhos....

Vinha aqui só para recordar um ou outro pormenor do artesanato rudimentar, mas por isso mesmo valioso, que ali se produzia, mas já me ia perdendo como de costume.

Lembrar apenas que usavam três instrumentos na manufactura dos trabalhos em madeira: um vidrinho, uma faca e o fogo.

Um dia um nativo fez-me chegar para venda um cinzeiro com cerca de 40cm de altura, constituído por 4 serpentes entrelaçadas, mas sem se tocarem, que seguravam, com as respectivas cabeças, a concha do cinzeiro. Uma pequena obra de arte, especialmente as serpentes, tendo em conta os instrumentos disponíveis.
Chamaram-me à atenção os desenhos profusamente biselados em toda a obra, percebendo que tinham sido executados com uma faca. O que não entendia eram as únicas duas cores: o preto e o branco.
Perguntado ao artista, tendo em conta que não havia por ali tintas, a obra havia sido toda queimada e depois, uma vez que a madeira era quase branca, com o tal vidrinho raspavam o queimado, deixando à vista o branco da madeira no contorno do desenho pretendido.
Esta técnica pode ser observada nos javites que o Cardoso mostra numa das fotos.

Abraço

P.C.

Egidio Cardoso disse...

Apenas me ocorreu uma simples reportagem fotográfica. mas parece que haveria muito mais para dizer.
Fica o comentário do Cabrita que serve bem para compor o post.
Quanto ao Chiado, a pessoa mais adequada para a narrar seria o seu administrador, o furriel P. Costa. Não sei se ele lê o Blog.
Se for o caso, aqui vai o desafio...
Oh Pê, mãos à obra, não me obrigues a puxar pela cabeça, porque tenho mais coisas para contar.
Abraço
E.C.

Gabriel Costa disse...

Ó P, conta lá a história do Chiado e dos trapinhos que o Gameiro comprava para a sua amada, a Regina Preta!

Pedro Cabrita disse...

Bem...!
Vai começar a fofoca...!!!!!!!!

LOL...

P.C.

Gabriel Costa disse...

E, já agora, conta também, a história dos trapinhos da Regina Branca!

Pedro Cabrita disse...

... eu sabia...!

Gabriel Costa disse...

...pois...